5 Mitos e verdades sobre o sequenciamento de DNA

5 Mitos e verdades sobre o sequenciamento de DNA

De uns anos pra cá, o conceito de “teste de DNA” passou a se tornar algo muito mais amplo do que o quadro preferido de 10 entre 10 pessoas que assistiam ao Programa do Ratinho. É cada vez mais comum encontrar pessoas que fazem esses testes não apenas para comprovar paternidade, mas para descobrir mais sobre si próprio.

“Hoje em dia, as duas principais razões pra pessoas fazerem o teste da Genera é o risco de doenças – pra conhecer melhor as doenças e ir pra um caminho da medicina de precisão – e curiosidades sobre a minha origem, que envolve muito a questão de ancestralidade e identidade,” revela Ricardo Di Lazzaro, doutor em genética e cofundador da Genera, um laboratório brasileiro que é pioneiro no segmento de medicina genômica. “Principalmente no Brasil, que é um país muito miscigenado, e onde a maioria dos brasileiros teve sua história apagada ao longo dos últimos séculos.” O Doutor Di Lazzaro foi um dos participantes no episódio 18 do Innovation Hub Show, onde contou um pouco sobre como funciona e sobre o que podemos fazer ou não com o estado atual dos estudos de genoma.

“O da Genera é um teste genético bem amplo,” afirma Ricardo. “A gente vai avaliar milhares de pontos no DNA, que são aqueles que mais variam entre as pessoas. São aquelas letrinhas ATCG que a gente estudou no ensino médio ou na faculdade. Cada pessoa tem uma sequência específica, e a gente vai avaliar essas mudanças nas letrinhas entre algumas pessoas.” Ele explica que é o estudo dessas variações que permite que se descubram várias coisas sobre as pessoas, desde informações gerais sobre descendência até coisas altamente específicas.

E é justamente sobre essa especificidade que existem muitas dúvidas sobre o que é possível ou não fazer com os estudos sobre DNA. Então, vamos começar respondendo aquela que provavelmente é a maior de qualquer pessoa que nasceu antes da década de 1990.

É possível reviver dinossauros a partir do DNA encontrado em mosquitos fossilizados no âmbar?

(INFELIZMENTE) MITO

Ainda que Jurassic Park tenha marcado gerações (e possivelmente seja um dos melhores filmes já produzidos em toda a história do cinema), aquela famosa cena do Mr. DNA explicando como eles conseguiram criar clones dos dinossauros extintos há centenas de milhares de anos não passa de tecnobaboseira: um tipo de discurso que pode até fazer sentido para quem é leigo, mas que não possui nenhuma base científica sólida. Isso acontece porque o DNA não é algo perene, e vai se deteriorando com o tempo. Cientistas afirmam que o DNA se desintegra totalmente (ou seja, já não deixa nenhuma vestígio) depois de cerca de 7 milhões de anos. Isto tornaria impossível a recuperação do DNA de um dinossauro, já que eles foram extintos há pelo menos 65 milhões de anos. E, ao contrário do que Jurassic Park tenta nos convencer, o âmbar não consegue preservar essa informação genética sem que ela deteriore.

Posso usar testes de DNA para achar familiares que eu nem sabia que existiam

VERDADE

A gente já sabe que é possível fazer testes de DNA para comprovar paternidade direta (alô, Ratinho!) e também para descobrir nossa ancestralidade (e provavelmente todo “viking de Osasco” já fez um teste desses para provar que possui 0,2% de ancestralidade nórdica), mas estes testes também podem ser utilizados para encontrar familiares que você nem sabe da existência. “Não importa se vocês se conhecem ou não, através do teste genético é possível achar familiares de qualquer lugar do mundo”, afirma o Doutor Ricardo Di Lazzaro.

No geral, testes de DNA já ajudaram a revelar a identidade de um dos maiores mistérios da Austrália, solucionar casos de serial killers e até mesmo ajudar uma mãe e filha que foram separadas na maternidade a se encontrarem depois de 59 anos.

Testes de DNA podem me ajudar a prevenir doenças

VERDADE

Sim, é mesmo possível usar o teste de DNA para se prevenir de possíveis doenças. Da mesma forma que a análise das variáveis pode indicar qual a sua ancestralidade e possíveis familiares perdidas, elas também te ajudam a encontrar predisposições para diversas doenças que podem ter um componente genético envolvido, como Síndrome de Down, obesidade, câncer, e tantas outras.

Um caso recente bem famoso é o do ator Chris Hemsworth (conhecido mundialmente por interpretar o Thor nos filmes da Marvel) que, durante as gravações de um documentário sobre longevidade, fez um teste genético que indicou um risco acima da média de que ele desenvolva Alzheimer conforme envelhece. Esse tipo de conhecimento permite que as pessoas possam ficar mais atentas a possíveis sintomas, além de tratar essas doenças desde o início, tomando medidas para se prevenir e aumentando as chances de um tratamento bem sucedido.

Mas, caso você faça testes para descobrir se tem uma predisposição genética a uma doença, o resultado não pode ser tratado como se fosse uma sentença. Afinal, os testes genéticos não afirmam com certeza que você terá câncer, por exemplo, mas apenas apontam se, de acordo com os seus genes, o seu corpo tem uma chance maior ou menor de desenvolver algum tipo de câncer – é um jogo de probabilidades, e não de certezas.

“Uma coisa que muita gente não entende é que existe a diferença entre o genótipo e o fenótipo,” aponta o estudante de medicina João Dias Neto, que viralizou na internet com a história de que foi com um teste genético que ele pode confirmar que havia sido mesmo adotado, e que agora está usando o alcance que conseguiu para tentar encontrar sua família biológica. “Então não é só porque a gente tem um gene que indica algum tipo de doença ou aptidão física que a gente vai expressar esse gene. Isso tudo se junta a outras fatores, como as condições do ambiente em que vivemos, as escolhas de vida que nós fazemos, e que vão influenciar a expressão desses genes.” Ou seja, não é porque um teste indicou que você tem predisposição a desenvolver câncer de pele que você deve já começar a fazer o testamento e se despedir dos seus amigos e familiares, mas sim que talvez seja legal você passar a usar protetor solar sempre que precisar sair de casa.

Testes de DNA podem te indicar qual esporte praticar

(incrivelmente) VERDADE

Parece brincadeira, mas é real: seu gene pode indicar se você vai ser bem-sucedido ou não em um esporte. Mas não, não é que existe um gene NYMR10 que fala se você vai ter talento pra jogar futebol ou não. Como explica o Doutor Di Lazzaro, a coisa é um pouco mais complexa: “Existem padrões de esportes, por exemplo, esportes de mais força e explosão – como o futebol – e a proporção de alterações genéticas de força e explosão em jogadores de futebol profissional é muito maior do que na média da população. Diferente, por exemplo, dos esportes mais de resistência, como corridas de longa distância. E um dos marcadores genéticos, o gene chamado ACTN3,  ele indica o tipo de fibra muscular que o seu corpo possui, e aí é possível saber se a pessoa tem mais predisposição pra força e explosão ou pra resistencia.”

Isso quer dizer que não é que nós temos genes que vão indicar exatamente se seremos bons em futebol, basquete ou natação, mas é possível analisar as informações genéticas do nosso corpo – resistência muscular, capacidade de explosão, capacidade de regeneração, etc. – para entendermos, a partir dessas características, qual esporte nosso corpo terá menos dificuldade em atingir um bom rendimento.

No futuro, todo mundo irá fazer testes de DNA

…TALVEZ…?

Assim, ninguém aqui tem bola de cristal para prever o que realmente vai acontecer no futuro, mas há uma real possibilidade de que, sim, os teste de DNA se tornem tão comuns e obrigatórios quanto é, hoje, a coleta de digitais de uma pessoa aqui no Brasil. Como bem aponta o Doutor Ricardo Di Lazzaro, “A própria China está implementando uma política de fazer testes de DNA em todas as crianças que nascem.”

Ele acredita que ainda é preciso discutir sobre a questão da privacidade desses dados, já que o DNA em si não é exatamente algo privado. “O próprio teste genético já transborda essa ideia de direito individual,” argumenta o Doutor, “porque o DNA é similar aos parentes. Então o fato de você fazer o teste de certa forma também pode impactar os parentes, certamente os mais próximos.” Mesmo com essas complicações, ele acredita que toda pessoa pode se beneficiar muito ao estudar e tentar compreender o próprio código genético – principalmente na questão de já se prevenir desde cedo contra possíveis doenças

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