Nesta semana de SXSW, estou em Austin de olho em tudo o que o evento traz de melhor este ano. Aqui no blog, vou resumir algumas das discussões mais interessantes que estão rolando!
Depois de anos operando com perdas, a Uber finalmente conseguiu tornar a empresa lucrativa – e isso deixa todo mundo ainda mais curioso sobre o que o futuro reserva. E Dara Khosrowshahi, CEO da empresa, foi enfático ao afirmar que ela continua apostando na mesma estratégia que já havia revelado ao público em 2020: a busca por ser uma empresa mais “verde”, com emissões de carbono zerados e um foco no uso de automóveis elétricos. Essa confirmação da estratégia – além de outros pontos importantes – aconteceu na entrevista que o CEO deu para o prefeito de Austin no palco do SXSW, e nós iremos resumir aqui tudo o que você precisa saber dela.
Sustentabilidade
Ao longo da entrevista, Dara reafirma que o principal objetivo da Uber nos próximos anos é cumprir a meta que estabeleceu em 2020: de que até o fim da década a empresa iria zerar as emissões de carbono em toda a Europa e EUA, e o principal plano para conseguir isso é facilitar que os motoristas do app tenham acesso a carros elétricos.
Assim, a companhia fez parcerias tanto com montadoras (como Kia e GM) quanto com locadoras (como a Hertz, Avis e Ford) para tentar oferecer preços menores e melhores condições de pagamento para os motoristas que tiverem interesse em adquirir um carro elétrico. Além dessas parcerias, ela também já fechou uma parceria com a Revel para oferecer 25% de desconto aos motoristas de Uber que utilizarem suas estações de recarga, e está em conversas com a BP Pulse e a EVgo para garantir que seus motoristas consigam desconto na recarga em todas as grandes cidades da Europa e dos EUA.
Khosrowshahi afirmou que esses esforços já vêm dando resultados: no ano passado, mais de 126 mil veículos elétricos eram cadastrados no app, além da empresa ter alcançado a marca de 287 milhões de corridas feitas em veículos elétricos nos últimos 3 anos.
E para reforçar o comprometimento da empresa com a questão ecológica, o CEO da Uber aproveitou o palco do SXSW para anunciar uma nova função dentro do app para motoristas, que compara a quantidade de CO2 emitido pelos carros das categorias UberX e Uber Confort com as emissões da Uber Green e Uber Confort Electric em um mesmo trajeto.
Preocupação com o preços
Outra grande preocupação de Khosrowshahi é com os preços das corridas. Ele sabe que, hoje, a Uber é um produto utilizado apenas pela classe média pra cima, e entende o quão importante é tornar as viagens mais baratas, permitindo que mais usuários possam usar o serviço.
Para conseguir isso, a grande aposta da empresa é oferecer mais opções de viagens que possam ser compartilhadas. Ele afirma que, fora dos EUA, esse tipo de opção é muito mais comum, e existem países onde pessoas compartilham até um “Uber Ônibus”, dividindo a viagem em veículos que cabem até 20 pessoas.
Mas, ainda que isso esteja dando certo no exterior, o CEO enxerga dificuldades em aplicar este tipo de opção dentro dos EUA, onde é mais comum as pessoas preferirem pagar a mais pela conveniência de não precisarem dividir viagem.
(Um adendo que nada tem a ver com a entrevista mas que achei engraçado: o Rafael, que me ajuda a escrever os conteúdos aqui do site, morou na cidade de Jaguariúna entre os anos 2006 e 2007, e falou pra mim depois de ver essa entrevista que aquilo que a Uber enxerga como futuro é uma realidade no interior de SP desde pelo menos o início dos anos 2000. O transporte mais comum lá era o “taxi coletivo”, onde você chegava no ponto de táxi, ficava alguns minutos esperando até conseguir 3 pessoas que iam para o mesmo bairro que o seu, e então todos entravam no carro, o taxista deixava cada um em suas casas, e cada um pagava algo em torno de R$3 ou R$4 pela viagem.)
Competição com a Amazon
Além de falar sobre a Uber, Khosrowshahi também revelou quais são os próximos planos para o Uber Eats, o braço de entregas para a empresa e que é a parte dela que mais cresce. E as expectativas para o serviço são bem “singelas”: competir com o sistema de entregas da Amazon.
De acordo com o CEO, o futuro do Uber Eats é deixar de ser um serviço de entrega de refeições e se tornar um serviço de entrega de qualquer coisa. A ideia da Uber é criar redes locais para se tornar um serviço ainda mais eficiente do que a Amazon: ao invés de prometer entregar suas compras no dia seguinte (como faz o sistema Prime da Amazon hoje), a versão “turbinada” do Uber Eats conseguiria entregar qualquer produto no mesmo dia que a compra foi efetuada. E isso só será possível, na visão de Khosrowshahi, quando o Uber Eats alcançar sua “forma final”, tornando-se o app onde todo e qualquer comércio de uma cidade, por menor que ele seja, terá um cadastro por lá.
E a automação?
Não faz tanto tempo que um dos principais objetivos da Uber era a automação total de sua frota, e a companhia investiu centenas de milhões em pesquisas de veículos autônomos – mas isso parece ter mudado.
Quando perguntado sobre, Khosrowshahi afirmou que o assunto ainda é importante para a empresa, mas não está mais no topo de suas preocupações. Os objetivos atuais são encontrar formas de zerar as emissões de carbono, tornar os preços mais acessíveis e criar uma estrutura logística local que permita entregas de qualquer produto no mesmo dia da compra – e só depois de conseguir tudo isso que a automação voltará a ser um preocupação realmente importante.