6 dicas de um futurista para navegar o caos do mundo

6 dicas de um futurista para navegar o caos do mundo

A minha, a sua, a nossa vida está um caos – essa é uma verdade incontestável do mundo atual. 

Como bem lembra a Déborah Oliveira, diretora de conteúdo do IT Fórum, no episódio 6 do podcast do Innovation Hub Show, a gente vive um momento de tantas mudanças que, quando finalmente conseguimos nos adaptar a uma, já precisamos começar novamente todo o processo de adaptação para algo novo que surgiu. 

Nos anos pós-COVID, muito se falou sobre o “novo normal” – uma ideia tão repetida que tenho certeza que pelo menos um dos nossos leitores teve um leve enjôo assim que leu essa frase. Mas a Déborah trouxe no podcast uma ideia diferente do que seria esse “novo normal”: não um mundo pós-COVID, mas um mundo onde a única certeza é a de que temos que estar mudando e nos adaptando a todo momento. 

Um mundo definido pelo caos.

E fica a dúvida: como sobreviver em um mundo onde a única certeza é a incerteza? Isso foi um dos motivos pelos quais chamamos Luiz Candreva – futurista, head de inovação da Ayoo, professor na HSM e na Fundação Dom Cabral, Colunista da CNN Brasil e board member na Boali – para o episódio desta semana no Innovation Hub Show, e ele deu algumas dicas importantes que tanto pessoas quanto empresas podem seguir para navegarem menos perdidas em nossa nova realidade.

Defina quais são as suas constantes

Pode parecer papo de coach, mas algo que realmente é importante é definir aquilo que realmente importa. Candreva lembra que a nossa vida é uma mistura de constantes (aquelas coisas que estão sempre presentes) e variáveis, e é preciso ter um equilíbrio nelas: ao mesmo tempo que uma vida feita apenas de constantes se torna rapidamente uma rotina tediosa, uma vida somente de variáveis pode se tornar uma existência sem rumo.

Por isso, ele enxerga que o grande desafio do mundo atual é definir quais são as suas constantes – ou o quanto do seu passado e presente você vai levar para o futuro. Quais valores irão fazer parte dessa sua constante? Quais pessoas? Existe algum lugar onde você se sinta bem, relaxe só de ficar ali, que também pode entrar nessa constante? Quanto do meu repertório eu preciso manter e o quanto eu posso abrir mão?

A busca pelas variáveis – novas experiências, novos cursos, novas conexões – é algo que você precisará fazer durante toda a vida, mas é na definição das suas constantes que você vai saber se tudo está sendo feito na busca de um objetivo.

Candreva aponta que o mesmo vale para o ambiente empresarial: quais modelos de negócio, práticas e culturas as empresas devem manter e levar para o futuro, e quais elas devem abandonar para abraçar as mudanças do mercado? E é neste ponto que o futurista aponta que os problemas enfrentados pelo mundo corporativo serão os mesmos que as pessoas vão enfrentar individualmente, porque esses problemas não são coisas da tecnologia, mas da própria vivência humana.

Busque por habilidades fora do currículo

O mercado de trabalho ainda é muito focado na ideia de currículo: experiências profissionais, cursos acadêmicos, certificados de participação em palestras. Mas nós sabemos que as pessoas possuem habilidades que não são obtidas em cursos ou no mercado de trabalho, e sim de suas experiências individuais de vida. E, ainda que isso seja muito difícil de mensurar, podem se mostrar cada vez mais necessárias no mercado.

Candreva dá como exemplo a própria Ayoo, que contratou algumas mulheres para o time não apenas pelo currículo, mas também pelo fato delas serem mães. Ele aponta que o “ser mãe” faz com que elas sejam extremamente eficientes na organização de processos, porque essa é uma habilidade que elas adquiriram justamente na vivência diária de ter que trabalhar ao mesmo tempo que precisam cuidar de uma criança. 

Este tipo de visão holística das habilidades de uma pessoa já está ajudando a mudar algumas visões deturpadas do mercado: por exemplo, comumente jovens que tinham o videogame como hobby eram vistos como preguiçosos e sem ambição, mas cada vez mais a prática tem sido vista de forma positiva, pois diversas pesquisas mostram que essas pessoas estão propensas a ter melhor pensamento crítico e achar soluções criativas para problemas complexos.

Experimente diferentes realidades

Mais uma vez algo que vai parecer papo de coach motivacional (ou de adolescente rico), mas Candreva aponta que a oportunidade de viajar é algo que tem contribuído demais para a carreira dele. Só que essas viagens não são apenas para lugares incríveis da Europa e cidades riquíssimas: ele também visita muitas cidades do interior do Brasil, regiões paupérrimas em países como a Bolívia, e até mesmo alguns dos locais considerados como os mais violentos do mundo. 

A questão das viagens não está apenas em curtir um outro país, mas em experienciar pessoalmente as diferentes realidades que existem no mundo. Esse tipo de experiência ajuda ele a ser mais empático com as pessoas como um todo; essa empatia permite que ele compreenda melhor como as pessoas se comportam, e é entendendo o comportamento delas que ele consegue antecipar tendências.

Abrace o contraditório

Mas mesmo quem não tem a oportunidade de viajar tanto quanto ele pode exercitar essa empatia apenas se mantendo aberto a novas experiências, opiniões e visões de mundo que contrastam com a sua realidade. E isso é algo que Candreva acredita que a gente começou a perder nos últimos anos.

“O que eu vejo as pessoas fazendo é serem refratárias à transformação. As pessoas tentam cancelar a ideia oposta: censurar, impedir, limitar. Então a gente parou de debater ideias e começou a debater pessoas – e quando você faz isso, você afasta as pessoas. Enquanto a troca de ideias, você debater ideias, aproxima as pessoas”, disse o futurista no episódio 6 do Innovation Hub Show.

Claro, quando falamos de debate de ideias sem censura não podemos esquecer do “paradoxo da tolerância” de Karl Popper. Filósofo austríaco considerado como uma das grandes mentes do século XX, Popper era um ferrenho defensor da liberdade de expressão, mas também defendia que há um perigo em tornar essa liberdade totalmente irrestrita. Para o filósofo, há um paradoxo inerente na ideia de discurso irrestrito que é a defesa de discursos intolerantes. Pois, ao se permitir que discursos intolerantes (aqueles que defendem que a solução de algo é o silenciamento de um tipo de ideia, a perseguição de um tipo de pessoa ou até mesmo a aniquilação completa de algo ou alguém) possam ser proferidos sem qualquer tipo de restrição, a “liberdade de expressão irrestrita” estaria sendo utilizada para defender a não-existência dela, pois permitiria que discursos que defendem que apenas um tipo de pessoa tenha liberdade de se expressar (ou mesmo existir) possam prosperar. 

Mas ainda que essa questão da liberdade irrestrita do discurso seja algo complexo, uma coisa é certa: o debate aberto de ideias é uma das melhores formas de se criar pontes, seja para tornar conhecidos em amigos, seja para tornar leads em clientes fidelizados.

Desafie suas verdades

Um outro ponto que Candreva toca é na questão de sempre questionar se as suas próprias crenças são mesmo reais. Ele entende que esse é um desafio muito difícil, e muitas vezes este tipo de questionamento é desagradável até num nível físico para as pessoas, mas entende como algo necessário para o futuro que nos aguarda.

“Um exercício que eu faço com frequência, e que eu acho que é saudável, é a gente desafiar aquilo que a gente acredita fortemente. E volta e meia eu me pergunto: será que não sou eu quem está errado?” O futurista ainda aponta que esse questionamento não deve ser superficial – aquele tipo de coisa que a gente se pergunta apenas para rapidamente confirmar nossas convicções – mas realmente se abrir para entender outros pontos de vista, e colocar nossas crenças e dogmas em xeque.

Se após essa análise pesada eles resistirem, você terá ainda mais convicção e argumentos para quando precisar defendê-lo. E se essa análise provar que o que você acreditava estava errado, você terá a oportunidade de seguir um novo caminho, ao invés de se manter no erro apenas para evitar a inconveniência de ter que duvidar de si mesmo.

O mundo vai além do seu umbigo

Outra coisa que Candreva aponta como um hábito que devemos abandonar é a frequência com que usamos nossa experiência pessoal como gabarito para tudo. O futurista afirma que “é de uma soberba invisível, uma soberba que a gente não percebe, usar aquilo que a gente vivenciou, aquilo que a gente conhece, a nossa realidade – que é um prisma muito pequenininho de toda a possibilidade de coisas que podem acontecer – e falar “mas isso nunca foi assim”. Mas, peraí! Isso já foi muito diferente, isso será muito diferente, e isso já é diferente para uma série de pessoas.”

Ele lembra que, neste mesmo momento, enquanto existem países que já consideram o cartão de crédito uma tecnologia ultrapassada, existem pessoas que nunca tiveram energia elétrica em suas casas. A realidade é muito maior, muito mais diversa do que aquilo que nós vemos em nossas vidas, e é um exercício diário nos lembrar de não deixar que nossos experiências pessoais sirvam como “manual de instruções” para tudo.

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