Apple Vision Pro: uma revolução que “não serve pra nada”?

Apple Vision Pro: uma revolução que “não serve pra nada”?

Desde junho do ano passado, quando a Apple finalmente revelou ao mundo o Apple Vision Pro – uma espécie de “computador de cabeça” que permite que as pessoas interajam ao mesmo tempo com o mundo real e com uma camada virtual – muito se fala sobre como este é o “Novo iPhone”, uma tecnologia que irá mudar o mundo. Mas calma! Esta matéria não é um review tardio do aparelho (até porque tem muita gente mais qualificada do que eu fazendo isso na internet), mas uma que tenta responder a pergunta: será que o Apple Vision Pro é mesmo tudo isso que estão tentando te vender?

Primeiro: pra que serve o Apple Vision Pro?

A resposta para essa pergunta pode ser um tanto confusa, mas o Apple Vision Pro é, ao mesmo tempo, um aparelho que não serve pra muita coisa hoje, mas que vai definir como será o nosso futuro. Foi isso que nos explicou Cauê Dias, diretor de inovação, pesquisa e desenvolvimento da NTT DATA, no episódio 12 do Innovation Hub Show: “Esse óculos foi criado pra gente descobrir o que fazer. A gente tá num novo mercado. A economia das âncoras, por exemplo, é uma economia nova. Na maioria das vezes a gente não resolve nenhum problema com isso aqui [o Apple Vision Pro], a gente cria um novo mercado.”

Para Cauê, a importância de um produto como o Apple Vision Pro não está exatamente no que ele pode fazer hoje (que, na maioria das vezes, são coisas que você consegue fazer mais rápido e de maneira mais simples com o seu smartphone ou computador), mas pelo novo mercado que ele inaugura. E tem também o “fator Apple”, que é o fato de que se a empresa está apostando neste produto, é porque o mercado é real:  “É o lançamento que a gente sempre esperou, falando de mercado. A Apple entrou, isso quer dizer que este mercado é real e vai acontecer de alguma forma.”

Já para Denis Shirazi, fundador e CEO da 20DASH, o Apple Vision Pro é a confirmação de uma tendência que começou há 10 anos atrás: “”É uma revolução tecnológica. A Microsoft lançou o Hololens, que foi um dos primeiros óculos de realidade mista, já tem 10 anos.” Assim como Cauê, Denis também está mais empolgado pelas possibilidades do que o Vision Pro poderá fazer no futuro – e o mercado que ele abre – do que pelo que ele entrega hoje. 

Como o Vision Pro vai mudar meu futuro?

“Quando a gente vê as imagens hoje de computação espacial, a gente vê telas 2D dentro do 3D. E isso é o comecinho, pras pessoas se acostumarem.” O vídeo abaixo é um bom exemplo da forma como o Cauê descreveu o funcionamento atual dos apps no Vision Pro: basicamente um monte de telas projetadas sobre um ambiente, e que permite a interação do usuário.

Mas ele garante que isso não vai se manter assim por muito tempo, e logo deveremos ver projeções 3D de verdade sendo usadas. E, para Denis Shirazi, é neste momento que a tecnologia passará a fazer cada vez mais sentido: “Todo mundo que trabalha hoje com software de programação 3D – cadistas, engenheiros, arquitetos, etc. –  conseguirá ter uma visualização muito mais fácil do trabalho que fazem. E indo um pouco mais pro gerencial, imagina um gestor de chão de fábrica. O cara conseguir pegar isso [o Apple Vision Pro] e olhar o parque industrial dele, ter informações em tempo real sobre o status das máquinas. Ele consegue otimizar o trabalho dele e até visualizar algo que antes não conseguia enxergar.”

E, claro, para chegarmos num futuro onde esse equipamento será tão comum quanto é um smartphone hoje, precisaremos superar não apenas as limitações de para que usar o produto, mas também àquelas relativas ao hardware. Porque, vamos ser francos, mesmo se o preço caísse vertiginosamente, um bagulho que parece a viseira do Ciclope dos X-Men, pesado, e que é ligado por fio a uma bateria de bolso que é do tamanho de um power bank não vai se tornar popular nunca. 

Para Cauê Dias, a real popularidade dessa tecnologia só poderá ser alcançada quando outras forem utilizadas em conjunto junto com ela, criando todo um ecossistema de desenvolvimento que permitirá que o Vision Pro se transforme em algo leve e prático como um óculos de verdade: “A gente tem muitas linhas de pesquisa em que nós vamos mudar o paradigma do processamento. Então nós vamos renderizar os 3D todos na nuvem, e com o 5G a gente vai conseguir fazer os streaming dos objetos direto pros aparelhos. Então a gente vai trocar esse paradigma e aí sim conseguiremos chegar a algo tão perto do que a gente tá acostumado, do que a gente considera ser um óculos.”

E sobre o ponto das baterias, Denis acredita que o constante desenvolvimento da indústria de chips – que recentemente conseguiu criar um processador de 3 nanômetros – irá ajudar a solucionar esse problema: “Mais do que o processamento, essa diminuição significa uma economia de energia do chip, o que me permite ter uma bateria menor. E com uma bateria menor eu consigo fazer dispositivos menores. E aí eu posso criar coisas como uma lente de contato, porque o consumo de energia é tão pequeno que o meu próprio corpo gera essa energia.”

Empolgação pelo futuro

Conseguimos entender a empolgação dos entusiastas e usuários pela tecnologia – afinal, o Vision Pro e outros aparelhos de realidade mista existentes no mercado estão tornando mais palpáveis coisas que só víamos nos filmes de ficção científica. Mas o que será que mais tem empolgado as pessoas que estão na indústria de inovação e vendo de perto a evolução dessas tecnologias?

Para nosso host Igor Lopes, que atua mais na área de criação de conteúdo, o que mais o empolga é estar presenciando um novo momento de revolução de produtos designados não apenas para o uso corporativo, mas para as pessoas em geral: “Eu cobri B2C por, sei lá, 15 anos. E chegou um momento que encheu o saco! Porque todo smartphone era igual, sabe? Chegou um momento que você não tinha mais o que falar, tava falando sempre as mesmas coisas. Eu acho que a gente tá chegando num momento do B2C revolucionar de novo, e a gente começar a ter coisas muito legais e diferentes.”

Já para Cauê Dias, que com a NTT está trabalhando diretamente no desenvolvimento de aplicações para o Vision Pro, o ponto principal é poder fazer parte da construção de todo este novo mercado e, junto com as pessoas que irão usar esses headsets, definir como será o futuro: “Mesmo a gente que desenvolve não tem acesso a todas as funcionalidades dele [do Apple Vision Pro]. A gente tá em contato com a comunidade pra entender o que a galera precisa e ir construindo junto.”

Já Denis Shirazi, que atua com a 20DASH em soluções mais focadas para o marketing, ele sente que o que estamos fazendo hoje com essas tecnologias – Vision Pro, IAs, 5G e tudo o mais – pode parecer pequeno olhando para o momento, mas será muito importante quando tivermos o afastamento que apenas a perspectiva histórica proporciona: “Eu acho que a gente tá vivendo uma supremacia tecnológica que daqui a 300 anos a gente vai olhar pra esse período igual a gente olha hoje pra Revolução Industrial. E assim, a Revolução Industrial durou 80 anos, não foi do dia pra noite. Então daqui a 300 anos, se o mundo ainda existir, essa época vai ser uma revolução tecnológica – desde o lançamento da internet até agora – um boom que foi o responsável direto pela forma como viveremos no futuro.”

E essa é a realidade que explica tanta empolgação com um produto que, hoje, ainda ninguém sabe direito para o que serve. Porque é justamente o fato de ninguém saber direito que torna ele tão interessante, pois é a primeira vez em muito tempo que nos deparamos com um produto que é um verdadeiro “balde de LEGO sem manual de instruções”: as peças estão todas ali, e cabe a nós imaginar como usá-las para construir a imagem do futuro que queremos alcançar.

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