Em 1986, Rocky IV chocou o mundo ao propor uma luta entre um atleta que utiliza tudo o que a ciência do esporte tinha de mais moderno – incluindo anabolizantes – em seus treinamentos, contra um que se preparou apenas com muito trabalho duro da forma mais rústica possível. E ainda que a moral do filme seja a de que é possível superar todos os limites do corpo humano apenas com muita determinação e vontade, existem pessoas que consideram Ivan Drago como o ápice de um esportista que confia na tecnologia como melhorador de performance.
E uma dessas pessoas é Peter Thiel, o bilionário fundador do PayPal.
As “Olimpíadas do Doping”
Peter é um dos maiores defensores de uma “disrupção” daquilo que ele acredita ser o espírito olímpico, e acredita que um torneio onde todos os avanços tecnológicos são liberados para uso – inclusive substâncias que, no esporte tradicional, são consideradas como doping – permitiria a quebra de recordes históricos e tornaria as disputas muito mais interessantes para o público.
Thiel é um dos maiores expoentes do movimento “atletas melhorados”, que considera o uso de substâncias melhoradoras de performance – o famoso doping – como uma escolha individual dos atletas que não deveria ser regulada por nenhum órgão esportivo. Este movimento acredita que, ao invés de evoluir com as inovações tecnológicas, o esporte tem se mantido anacrônico, e isto têm impedido os atletas de atingirem os melhores resultados. Além de Thiel, outros expoentes deste movimento são Balaji Srinivasan (investidor em cripto e ex-CTO da Coinbase) e Christian Angermayer (conhecido investidor em biotecnologia).
Por isso, o movimento quer organizar o “Enhanced Games” (Olimpíada dos Melhorados, em tradução livre), uma competição onde nenhum dos atletas será testado para doping. Este torneio – que tem sido chamado pelos organizadores de “as Olimpíadas do Futuro” – teria como grande objetivo mostrar a facilidade com que atletas podem quebrar recordes históricos quando abraçam completamente as inovações da tecnologia e biotecnologia.
Outro grande defensor do evento é Michael Sagner, pesquisador de medicina esportiva no Kings College (Inglaterra). Sagner defende que os atuais testes anti-doping são menos voltados para garantir a saúde dos atletas e mais para criar uma ilusão de competitividade e igualdade de condições para o público, e afirma que o “Enhanced Games” irá seguir um protocolo médico rigoroso que colocará a saúde dos participantes em primeiro lugar.
Ainda não há uma data definida para quando este evento deverá acontecer, mas o que sabemos por enquanto é que, pelo menos nesta primeira edição, serão disputados apenas esportes individuais de cinco modalidades: atletismo, esportes aquáticos, ginástica, esportes de combate e demonstrações de força física.
O que dizem as autoridades do esporte
Ninguém disputa que atletas que utilizam de substâncias melhoradoras de performance podem conseguir ótimos resultados e quebrar recordes – o ex-ciclista Lance Armstrong que o diga – mas apontam que, ao focar apenas nos resultados possíveis, os movimento dos “melhorados” ignora todas as questões éticas e as consequências que o uso dessas substâncias podem causar na saúde dos atletas.
Para Kieren Perkins, ex-medalhista olímpico e atual chefe do Comitê Esportivo da Austrália, promover uma competição deste tipo é algo que beira o criminoso, e ele se preocupa que não só permitir, mas incentivar o uso de doping irá causar a morte de algum atleta. O sentimento é compartilhado por Raelene Castle, chefe do Comitê Esportivo da Nova Zelândia, que comparou o “Enhanced Games” a disputas dignas de distopias como Jogos Vorazes e Round 6.
Já para Travis Tygart, CEO da USADA (agência anti-doping esportivo dos EUA), este evento é um exemplo do que acontece quando se coloca o lucro acima de qualquer princípio.
Com informações da Forbes
